Gostaríamos de aproveitar a
primeira publicação de nosso blog em 2014, para realizarmos uma breve
retrospectiva de 2013.
Logo no início do ano, reformamos
um espaço físico em Itanhaém para dar lugar à nossa casa de fundamento.
Trata-se do Ilê Funfun Awoshogun, ou seja, a Casa Branca da Cura e do Destino.
Foi um momento muito importante, pois ao longo de todo 2013, muitos e
importantes ritos públicos e reservados foram processados lá.
No campo acadêmico, a FTU
conseguiu o reconhecimento do seu curso de graduação em teologia com ênfase nas
Religiões Afro-brasileiras pelo MEC. Conseguiu nota 4, de um total de 5, o que
a alça ao patamar de curso de excelência aos olhos de nossos avaliadores. Essa
marca histórica a favor das Religiões Afro-brasileiras trouxe isonomia com as
demais confessionalidades religiosas por meio da educação.
Também comentamos em público algo
que passou despercebido por muitos que se interessam pela obra de meu último
mestre, W. W. da Matta e Silva (Metre Yapacany). Trata-se da escrita secreta
dos babalawos, um dos métodos mais antigos de Ifá que fora resgatada por Ele.
Tal método oracular, da qual somos os atuais detentores, faz menção ao que Nina
Rodrigues registrou em suas pesquisas no antigo Daomé, atual Benin. Os primevos
babalawos africanos usavam de uma escrita secreta e mágica para manipular o
Ifá. Escrita essa que em alguns de seus ângulos foram publicizados por Matta e
Silva em “Macumbas e Candomblés na Umbanda” e no apêndice escrito, desdobrado e
ampliado por nós no livro “Exu – O Grande Arcano”.
Ainda em abril de 2013 nosso
filho espiritual João Luiz Carneiro (Yabauara) defendeu seu trabalho de
conclusão de curso na pós-graduação em teologia afro-brasileira da FTU. O
primeiro da história. O trabalho dele "Religiões Afro-brasileiras: Uma
perspectiva teológica nascedoura nas ciências sociais" foi orientado pelo
maior escritor acadêmico sobre religiões afro-brasileiras: professor doutor
Reginaldo Prandi. Detalhe importante: este texto será publicado em 2014 com o
título “Religiões Afro-brasileiras: uma construção teológica” pela renomada
editora Vozes.
Em agosto, o recredenciamento da
FTU, ou seja, um processo que permite a faculdade continuar a atuar como
instituição de ensino superior regulamentada pelo MEC em solo brasileiro. No
mesmo período, nossas filhas de santo Érica Jorge (Yacyrê) e Maria Elise Rivas
(Yamaracyê) foram convidadas a escrever um capítulo do livro “Religião e
Educação: múltiplos olhares sobre o Ensino Religioso”, organizado pelos
professores Dr. Afonso Ligório Soares e Msc. Selenir Kronbauer. Na ocasião escreveram
sobre a visão que as religiões afro-brasileiras possuem e disseminam em suas
práticas sobre a educação das crianças e o ensino religioso.
Em setembro, realizamos o toque “Os
Mabassas vencendo a Morte”, um rito de importante conexão entre o culto aos
Ibeji, aos Mabassas, Encantados e a Umbanda Traçada. A casa de nossa filha Fabi
estava lotada e todos os presentes levaram doces em um saco, representando o próprio
“saco da vida”.
Ainda no mesmo mês, nossa filha
de santo e sacerdotisa Yamaracyê foi convidada a representar as religiões
afro-brasileiras no evento promovido pela prefeitura de Santo André e a
Universidade Federal do ABC intitulado: “Diálogo sobre Estado laico, gênero e
diversidade sexual no campo da fé e das religiões”. O evento contou com a
participação de vários líderes religiosos como representantes batistas,
metodistas, presbiterianos, católicos, espíritas, luteranos e muçulmanos.
O mês de outubro contou com o tradicional
rito de Exu. Em 2013, foi intitulado “Guardião do Destino, Vencedor da Morte”.
O templo da faculdade ficou lotado e, juntos, realizamos um xirê,
principalmente em homenagem ao grande caçador Odé! A dança em torno do
assentamento para Odé marcou o enredo do nosso rito a partir dos movimentos,
orikis e orins entoados. Nossa casa estava em festa!
Momentos antes, realizamos também
IV Congresso Internacional de Sacerdotes e Sacerdotisas em que o tema
DIVERSIDADE foi debatido mais uma vez. A proposta do congresso foi trazer a
visão dos pais e mães espirituais sobre a diversidade nas religiões
afro-brasileiras e como ela é vivenciada dentro e fora do terreiro. Como
sempre, o debate foi rico de contribuições e mostrou que a força das religiões
afro-brasileiras encontra-se no diálogo.
A editora Arché e a FTU
promoveram também a reimpressão do nosso livro “Escolas das Religiões
Afro-brasileiras – Tradição Oral e Diversidade”. O relançamento ocorreu no I
Simpósio Internacional da ABHR, na Universidade de São Paulo entre 29 e 31 de
outubro. A obra contou com a honrosa participação na 4ª capa do Prof. Dr.
Reginaldo Prandi. Aliás, fora na ABHR que a Faculdade de Teologia Umbandista
foi representada de forma histórica.
A começar pela primazia da FTU
conquistar a coordenação do primeiro grupo de trabalho (GT) com enfoque
exclusivo para a teologia afro-brasileira. Apesar dos trabalhos apresentados
contemplarem metodologias e abordagens de outras disciplinas acadêmicas como
sociologia, antropologia e ciências da religião, podemos dizer que a força era
proveniente da teologia uma vez que o nome do GT intitulava-se Escolas das
Religiões Afro-brasileiras, cujo conceito foi elaborado por nós teologicamente
e coordenado por nossos filhos Yabauara, Yacyrê e Yamaracyê.
Em novembro realizamos no Ilê
Funfun Awooshogun, toque de Jurema, Encantaria do Mestre Canindé. Um toque que
reuniu toda nossa comunidade de santo para louvar a ciência da jurema. Ciência
esta que se faz tão ou mais eficaz com as fumaças das marcas (cachimbos)
ritmadas pela Marca Mestra (maracá).
O anos de 2013 também foi marcado
pelo início dos cursos EaD (ensino à distância) da FTU. Iniciamos com a disponibilização do curso de
extensão universitária em ervas, nos preparando para lançar o curso de
pós-graduação (especialização) em 2014.
Uma das últimas atividades de
2013 foi a iniciação na Jurema, ou enjuremação, de Mãe Fabi (Yamaosilê), nossa
filha espiritual. Um importante processo iniciático que ocorrreu em nossa casa,
o Ilê Funfun Awooshogun. Mãe Fabi, assistida pela Mestra Lindinha do Agreste, ficou
alguns dias aos pés da Jurema de nossa casa passando pelas mãos de Mestres que
acostam ou trabalham conosco, especialmente: Mestre Canindé, Mestre Cariri,
Mestre Zé Maior e Mestre Turuatã. Foi enjuremada no “mato” e no “urbano”, as duas
principais modalidades de enjuremação.
Encerrando, certamente,
temos a total convicção que nossa maior vitória é constatar o equilíbrio e
harmonia em nossa comunidade de santo, do nosso Axé. Inclusive com meus sete
filhos consanguíneos dentro do terreiro. Portanto, esperamos um 2014 com muito
mais trabalho e realizações. Sempre. Axé!
Aranauam, Motumbá, Mucuiú, Kolofé, Axé, Salve, Saravá
Rivas Neto (Arhapiagha) – Sacerdote Médico
Ifatosh'ogun "O sacerdote de Ifá que tem o poder de curar”
Publicação 421